MT tem 6 cidades na lista das 20 mais violentas; veja lista

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Por: G1/MT

Estudo divulgado nesta quarta-feira (19) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) lista as 20 cidades mais violentas da Amazônia Legal, onde a presença de facções cresceu e chegou a quase metade das 772 cidades da região.

Nove estados compõem a Amazônia Legal Brasileira: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.

Os municípios foram divididos em quatro escalas, conforme a quantidade de moradores que possuem:

Pequeno 1: até 20 mil habitantes;

Pequeno 2: de 20 mil a 50 mil habitantes;

Médio: de 50 mil a 100 mil habitantes;

Grande: acima de 100 mil habitantes.

O FBSP considerou as taxas de mortes violentas intencionais dos últimos três anos para analisar as taxas a cada grupo de 100 mil habitantes. Os números indicaram os seguintes municípios com maiores taxas (VEJA QUADRO EM ANEXO).

Esta é a 4ª edição do estudo Cartografias da Violência na Amazônia, que conta com parceria do Instituto Clima e Sociedade, do Instituto Itausa, do Instituto Mãe Crioula e do Laboratório Interpretativo Laiv.

Motivações para a violência nessas cidades

David Marques, gerente de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, afirma que essas cidades sofrem com conflitos de facções pelo domínio do território. Segundo ele, dissidências e cenários instáveis de controle das regiões contribuem para aumento nas taxas de homicídios.

Ele cita como exemplo Mato Grosso, que tem seis das 20 cidades listadas entre as mais violentas. A área contempla a Terra Indígena Sararé, local com presença de grupos de garimpeiros ilegais, além de facções criminosas.

“Até no ano passado, a gente documentou algumas dissidências da [facção criminosa] Tropa do Castelar, que tinha ali uma relação com o PCC. Isso eleva as taxas de homicídio”, afirma. “Nessa região, tem esses garimpeiros se organizando e tentando constituir, inclusive, proto-milícias para fazer frente ao poder fogo do crime organizado, o Comando Vermelho. Então, isso tem elevado muito as taxas de homicídio na região. É a fotografia dos municípios mais violentos”.

Segundo o estudo, as situações das cidades são as seguintes:

Vila Bela da Santíssima Trindade (MT): possui posição geográfica estratégica para o tráfico de drogas pela proximidade com a Bolívia;

Nobres (MT): sob influência do CV, registrou conflitos entre a facção e o PCC;

Calçoene (AP): é atravessada pela BR-156, que liga Macapá ao Oiapoque. A estrada é usada como corredor estratégico para o tráfico de drogas;

Alto Paraguai (MT): próximo às BR-163 e BR-364, é dominado pela Tropa do Castelar, dissidência do Comando Vermelho.

Cumaru do Norte (PA): a dinâmica da violência no município está ligada a conflitos agrários, garimpo, presença de facções e desmatamento acelerado;

Rio Preto da Eva (AM): palco de disputas entre PCC e CV ao longo de 2024;

Barra do Bugres (MT): posição geográfica estratégica para o escoamento de drogas vindas da Bolívia. É disputada por CV e PCC;

Aripuanã (MT): tem a presença de dinâmicas criminosas como garimpo ilegal, tráfico de drogas e possui terra indígena em seu território, onde o Comando Vermelho explora garimpos;

Novo Progresso (PA): cidade atravessada pela BR-163, usada como corredor para o escoamento do tráfico de drogas e registra conflitos fundiários;

Mocajuba (PA): parte da violência pode ser atribuída ao CV, mas violência policial provocou metade (11) das mortes violentas intencionais no município;

São Félix do Xingu (PA): cidade tem, segundo o estudo, “sobreposição crônica” de desmatamento, conflitos fundiários e presença de facções;

Coari (AM): localizada em posição estratégica na região do médio rio Solimões, serve como um corredor hidroviário para o escoamento de drogas do Peru e da Colômbia;

Iranduba (AM): o município compõe a região metropolitana de Manaus, absorvendo em parte as dinâmicas de violência presentes na capital, e tem forte atuação do CV;

Tabatinga (AM): a cidade fica na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. Tem localização estratégica devido à proximidade dos países produtores de cocaína e é considerada uma das mais importantes entradas de drogas no país;

Santa Inês (MA): o município é cortado por duas rodovias federais, a BR-316 e a BR-222, pela Estrada de Ferro Carajás, e possui um aeroporto regional. É visto como estratégico para envio de drogas e outros produtos de crimes;

Sorriso (MT): CV e PCC disputam o controle do território desde 2023;

Santana e Macapá (AP): municípios concentram cerca de 75% da população do Amapá e 79% das mortes violentas intencionais do estado. São complementares: Macapá é capital e centro administrativo, já Santana é uma cidade portuária e logística. Segundo FBSP, a localização “facilita o crime transfronteiriço”, incluindo o tráfico de drogas, de pessoas e ilícitos ambientais.

Altamira (PA): maior município do país em extensão territorial, a cidade tem registro histórico de grilagem e desmatamento ilegal, com disputas entre CCA e CV pelo controle do crime local;

Itaituba (PA): Está em eixo estratégico do rio Tapajós, o que lhe confere “características estruturais que favorecem a expansão da economia ilegal relacionada ao garimpo e outros crimes ambientais”, segundo o Fórum, além da presença de facções criminosas.

Presença de facções cresce e chega a quase metade da Amazônia

O estudo também mostra que a presença de facções criminosas cresceu e chegou a 45% dos municípios que compõem a Amazônia Legal.

São 772 cidades na região, das quais 344 apresentaram alguma evidência da presença de facções, conforme o levantamento. O aumento é de 32,3% em relação ao ano passado, quando o Fórum identificava 260 cidades com facções.

Para o FBSP, o crescimento está diretamente ligado ao controle das rotas de tráfico de drogas na região, como no Alto Solimões. Crimes locais, entre eles o garimpo ilegal, também contribuíram para a expansão dos grupos criminosos.

Quantas e quais são as facções

São 17 grupos diferentes identificados pelos pesquisadores, como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), além de grupos locais e até internacionais, como o Tren de Aragua, da Venezuela, e a ex-Farc, da Colômbia.

Segundo o estudo, o CV tem influência em 83% do total de cidades com presença de facções, chegando a 286 — seja de forma hegemônica ou em disputa com outros grupos criminosos. Veja no mapa abaixo.

Originário do Rio de Janeiro, o CV domina o crime organizado em 202 cidades, enquanto disputa a hegemonia com rivais em outros 84, de acordo com dados do Fórum. Houve crescimento de 123% de sua presença na Amazônia desde 2023, quando estava em 128 cidades.

O Primeiro Comando da Capital (PCC) está em 90 municípios, com controle da criminalidade em 31 e disputando o domínio em outros 59. A facção teve leve oscilação na presença registrada há dois anos, quando aparecia em 93 cidades.

As 17 facções identificadas na Amazônia:

Comando Vermelho (CV);

Primeiro Comando da Capital (PCC);

Amigos do Estado (ADE);

Bonde dos 40 (B40);

Primeiro Comando do Maranhão (PCM);

Famílai Terror do Amapá (FTA);

União Criminosa do Amapá (UCA);

Comando Classe A (CCA);

Bonde dos 13 (B13);

Bonde dos 777 (dissidência do CV);

Tropa do Castelar;

Piratas do Solimões;

Bonde do Maluco (BDM);

Guardiões do Estado (GDE);

Tren de Araguá (Venezuela);

Estado Maior Central (ECM, da Colômbia);

Ex-Farc Acácio Medina (Colômbia).

Rota do tráfico e modo de atuação favoreceu o CV, indica pesquisador

Segundo David Marques, gerente de projetos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a presença maior do Comando Vermelho na região é justificada pela descentralização, enquanto o PCC, por exemplo, centraliza as decisões em seus chefes de São Paulo.

“A lógica de funcionamento do Comando Vermelho é como se tivéssemos a criação de franquias associadas ao grupo [nos estados]”, afirma.

Ainda de acordo com Marques, o grupo criminoso do Rio tem necessidade de atuar na Amazônia e escoar drogas pela região, já que o PCC controla a chamada “rota caipira” do tráfico, com corredores que escoam substâncias vindas das fronteiras pelo Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná até serem exportados por portos rumo à Europa e África.

“O PCC, nesses outros territórios, está muito mais interessado em fazer parcerias com organizações locais e nos fluxos mais macro, do atacado do tráfico. Enquanto o Comando Vermelho tem o interesse pelo atacado e no varejo também e, para isso, é muito importante o controle territorial”, afirma.

Presença das facções nos estados

A presença nos estados varia conforme a localidade: quanto mais próximo da fronteira com outros países da América do Sul, mais forte a presença.

O Acre, que faz divisa com Peru e Bolívia, tem presença em 100% dos seus 22 municípios. Já o Tocantins, no outro lado, na divisa com o Nordeste, tem 12% das 139 cidades com registro de grupos criminosos. Veja baixo:

Acre: 22 de 22 municípios (100%);

Amapá: 10 de 16 (62,5%);

Amazonas: 25 de 62 (40%);

Maranhão (parte amazônica): 53 de 181 (29%);

Mato Grosso: 92 de 141 (65%);

Pará: 91 de 144 (63%);

Rondônia: 21 de 52 (40%);

Roraima: 13 de 15 (80%);

Tocantins: 17 de 139 (12%).

Outros dados do estudo sobre violência na Amazônia Legal:

As mortes violentas na Amazônia Legal caíram para 8.047 em 2024, mas seguem 31% acima da média nacional;

O Maranhão é único estado da Amazônia Legal que teve alta na taxa de homicídio em 2024, com crescimento de 11%

O Amapá lidera ranking de estados mais violentos

O Pará e o Maranhão lideram conflitos no campo na Amazônia Legal

Os feminicídios são 19% maior na região amazônica do que a média nacional

Os estupros subiram na Amazônia Legal, a contramão do Brasil, e 80% das vítimas têm 14 anos ou menos;

As facções criminosas estão criando regras comportamentais para mulheres, que chegam até a necessidade de autorização para terminarem relacionamentos;

A apreensão de drogas subiu 21% em 2024 na Amazônia Legal.